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Corri por entre os cômodos, peguei as chaves e saí sem avisar a ninguém, inclusive a mim mesmo. Pântano, o gato que mora na casa, moveu-se sobressaltado em busca de alguma aventura, porém quando chegou à sala eu já tivera fechado a porta. Só lhe restou observar-me partir sem compreender. Eu mesmo sequer percebi o gato, o portão, a rua. Só me ocorria um pensamento: "preciso conseguir chegar a tempo."
A verdade é que eu não teria precisado correr se não tivesse hesitado tanto. Em minha defesa, digo que hesitar não é a palavra mais adequada, seria melhor "ponderar sobre um dilema". Para uma pessoa de fora é consideravelmente fácil classificar alguém de covarde, mas para quem conhece os pormenores é outra história.
Ou seria melhor dizer, outra História?
Eram seis da manhã e eu estava acordado porque não cheguei a dormir. Corri sem fôlego e na rua outras pessoas corriam por esporte. Se bem que algumas senhoras não exatamente corriam, elas andavam dando pulinhos. Outros estavam em melhor forma. O que todos tinham em comum, eu acredito, era uma certa paz de fim de semana, um gosto pela atividade física que eu estava longe de apreciar, especialmente ali, alternando entre correr alucinado e me arrastar para frente.
Cheguei a uma rua onde era possível ver os prédios da orla e um pedaço do mar. Talvez tenha sido apenas impressão, mas pude também observar parte da estrutura similar a um capacete, à beira da água.
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