Eu estava me preparando para ir criar o texto para o trabalho final de uma matéria, mas estou ouvindo o Clube da Esquina e não tive coragem de parar o álbum na metade. Então me propus relatar os dois sonhos lúcidos que tive nas últimas três semanas. (Não deixa de ser exercício literário!) Esses sonhos são importantes para mim, pois acredito que foram meus primeiros sonhos lúcidos, ou pelo menos, os primeiros que pude detectar. Eu não estava tentando tê-los, mas aparentemente meus hábitos noturnos favoreceram seu surgimento. Na internet uma das técnicas mais simples que encontrei tratava-se de interromper o sono após um intervalo e voltar a dormir enquanto realiza alguns movimentos sutis e repetitivos. No meu caso, acontece que frequentemente acordo para urinar durante a noite, ou acordo de manhã com o despertador e desisto de levantar (quem nunca?).
O primeiro sonho. Nota-se que não percebi que estava tendo um sonho lúcido até a parte final, onde percebe-se que posso ser bastante teimosa. Aliás, ele foi tornando-se mais claramente lúcido (gostei da expressão "claramente lúcido") ao poucos. Eu estava numa versão do Metrô Jabaquara e havia um posto de saúde naquela região e um translado gratuito entre o posto e a estação. Fui sem motivos da estação ao posto e lá esperava a van para voltar, novamente sem ter porquê. Era noite e me lembrava de minha avó (ela não apareceu visivelmente no sonho, mas era como se estive lá o tempo todo). Havia no posto um aparato como aquelas cadeiras de subir montanhas para esquiar e este era branco.
Fui para a rua. Dei-me conta que poderia encher o sonho de amigos e logo haviam várias pessoas conhecidas por perto. Não conversei com nenhum deles, mas invoquei a presença de [...]. Ele apareceu, mas eu não podia controlar seu rosto, era o rosto de outro rapaz. Ficamos de mãos dadas no meio da rua, entre as pessoas passando. Fiquei muito feliz por estarmos juntos. Ele então me disse que estaria sempre por perto, desde que eu o chamasse.
Dessa cena, fui para outra em que estava deitada no meu próprio quarto e me levantava para ir ao banheiro. Já estava prestes a acordar, de forma que me percebia deitada novamente, antes de conseguir urinar. Então a cena se repetia sem que eu chegasse ao banheiro. Percebi que estava dormindo mas que também estava com a bexiga cheia. Fiz um último esforço no sonho para chegar até o banheiro. Nessa parte, os trechos da casa pelos quais passava eram muito detalhados e de acordo com a realidade. Porém quanto mais perto chegava do banheiro, mais a imagem se distorcia (como falhas em um filme de rolo). Lá estava eu de novo em minha cama. Fui então de fato ao banheiro e voltei rapidamente a cama. Demorei alguns segundos para acreditar que dessa vez tinha sido real. Mas não voltei a dormir e minha bexiga estava tranquila.
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Antes do segundo sonho eu havia levantado-me, ido a padaria, comido pão e voltado para a cama. Enquanto ainda não estava dormindo, comecei a visualizar (imaginar, e não, ver) uma cabeça feminina na frente de uma paisagem. Ela falava coisas que não entendia, mas resolvi prestar atenção. Era uma espécie de apresentadora, hostess ou interface. (Eu ainda estava acordada).
O segundo sonho. Prólogo: Cheguei a uma casa desconhecida. Havia uma movimentação de pessoas, parentes minhas, deveria estar para acontecer uma festa. Apesar das limitações do sonho, este parecia real, isto é, eu tinha a sensação de estar desperta. Eu soube que podia controlar o que ia acontecer, que aquelas pessoas se comportariam mais como bonecos (ou seja, que elas não poderiam interagir ou brigar comigo). Então resolvi tocar os seios de [...] (não a mesma pessoa [...] do outro sonho). Desejei tocá-los porque ela era mãe, foi o pensamento que me ocorreu. Quando me aproximava dela, seus seios ganhavam cristas, como de galos, ou verrugas, e de fato, quando os toquei eram sacos de pedras. Entendi que nem mesmo em sonho eu ficava livre de restrições, havia em mim uma culpa forte por desejar aquilo.
Lembro-me de depois de vagar pelos cômodos da casa e sentar numa cadeira. Eventualmente decidi sair de lá, "voltar para a realidade comum", foi o que pensei. Pus a mão no encosto de uma cadeira para ajudar a me levantar. Olhei para minha mão no encosto. A imagem estava duplicada, embaçada. Desejei sair mas não sabia como. Senti medo de não voltar. Fui para a cozinha, com esperança que fosse a cozinha da minha casa, mas não era. Não conheço aquele lugar. A imagem voltou a falhar (como um DVD riscado) e acordei sacudindo a cabeça. Fiquei alguns segundos me assegurando de estar em casa e senti muito alívio.
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Mais tarde comparei essa possibilidade de sonho lúcido com os desejos que se consegue da lâmpada de um gênio mal. Eventualmente ele realiza seus desejos, mas não de uma forma agradável. Aparace quem você quer, com o rosto de outra pessoa. Você escolhe ir para a cozinha mas é uma cozinha estranha.
Talvez seja útil deixar uma dica, que talvez não sirva muito, mas a realidade "de fato" parece ter contornos mais firmes. Os objetos e pessoas permanecem. Nas realidades de sonho, quando olho fixamente para alguma coisa, ou não vejo detalhadamente ou a coisa se transforma.
E quando a gente não consegue acordar? Isso já aconteceu com vocês?
Um terceiro sonho. Este não foi um sonho lúcido (porém eu soube que estava dormindo), mas sonhei que alucinava. Tem sido um tanto frequente para mim, ano passado e este, ter sonhos em que estou deitada, quase na mesma posição que me deitei, no mesmo lugar em que dormi. Como se eu sonhasse que de repente acordei. Não é raro que esses sonhos tenham um teor sexual forte. Quando percebo que posso estar dormindo, tento me mexer e não consigo (acredito que seja o que chamam de paralisia do sono).
Nesse dia particular, (durante o sonho) eu abria os olhos e via no braço do sofá o rosto de um gato. Fechava os olhos para evitar essa imagem mas ela permanecia lá ao abri-los. Senti medo por estar alucinando, e acredito que foi o medo de alucinar de fato que me trouxe esse sonho. Acho que o som dos ônibus na rua transformou-se, no sonho, num rádio mal sintonizado através do qual um homem me dava instruções em inglês. Fiquei muito aliviada em perceber que não conseguia distinguir as instruções e, portanto, não poderia obedecê-las.
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Em abril/maio deste ano tive duas alucinações visuais (má-interpretações) enquanto desperta (não próximas de dormir e acordar). Numa delas, eu estava conversando com um amigo mas quando olhei para ele, tinha o rosto de outra pessoa. Fechei os olhos e disse para mim mesma que aquilo não era possível, mas quando olhei novamente, ainda era o rosto errado. Outro dia, estava com esse amigo novamente, olhei para o braço dele, seu braço estava muito menor do que o normal, como se tivesse magicamente diminuído. Fechei os olhos e me pus a convencer-me que aquele era um truque de perspectiva, que na verdade, eu estava olhando para o seu pulso e não para seu cotovelo e que seu braço na verdade era parte de sua mão, a parte visível do meu ponto de vista. Disse tudo isso e abri os olhos, a toa. O braço continuava diminuto. Alguns instantes depois o rapaz o moveu e as coisas voltaram ao normal.
Há alguns dias percebi vozes (não tive a sensação de ouvi-las, eram como pensamentos que eu não tinha pensado), um pouco antes de dormir. Ano passado, passou um carro na rua, a noite, enquanto eu estava deitada para dormir. Eu estava tentando ouvir vozes. O carro passou e o barulho que ele fez se transformou em um gemido. Não tentei ouvir nada desde então (fiquei com muito medo).
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